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segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Quando a beleza faz jus ao nome

Um dos mais belos aviões de combate já construídos, o poderoso F-14 Tomcat, fabricado pela antiga Grumman (atual Northop Grumman) é um exemplo de aliança entre design e eficiência. Este caça foi protagonista de diversas interceptações á bombardeiros soviéticos durante a Guerra Fria. Desenvolvido nos anos 70, entrou em serviço na marinha norte-americana em 1974, operando no porta-aviões USS Enterprise em substituição aos obsoletos McDonnell Douglas F-4 Phantom. Suas funções não eram modestas; servir como caça de superioridade aérea, proteção da frota naval e reconhecimento.


Um caça F-14 da U. S. Navy escolta um Tupolev soviético.


Os F-14 do Estados Unidos participaram de diversos combates, inclusive contra aviões das forças do Iraque e da Líbia, onde o poder do império ianque era visível, demonstrando suas habilidades de intervenção. Seus resultados em combate, porém, foram considerados decentes, fugindo da performance imortalizada nas telas pelo filme Top Gun Ases Indomáveis, em que alguns caças F-14 da U. S. Navy protagonizaram cenas demonstrando um desempenho muito superior ao real.


Tom Cruise no cockpit de um F-14 em Top Gun Ases Indomáveis.


O F-14 possui asas de geometria variável, mas não é muito manobrável em combate, pois o  seu segredo está no armamento eficiente utilizado para efetuar ataques fora do alcance visual do piloto. Fora dos Estados Unidos, esta aeronave foi exportada para o controvertido Irã, ainda durante o governo do xá Mohammad Reza Pahlavi, anterior á Revolução Islâmica de 1979. Em torno de 80 aparelhos foram encomendados com opção de compra de mais aeronaves, mas o número de aparelhos entregues não passou de 79 e o embargo americano impediu as possíveis aquisições posteriores, bem como suporte para os aviões já recebidos.


Exemplar de F-14 do Irã ostentando a pintura antiga em que foi recebido.


Durante a guerra Irã-Iraque, os Tomcat iranianos demonstraram superioridade sobre os aviões MIG-21 Fishbed, MIG-23 Flogger e MIG-25 Foxbat, Su-20/Su-22 Fitter iraquianos, tendo abatido diversos aparelhos durante batalhas travadas ar-ar. Sua principal missão era barrar a passagem dos velozes MIG-25 sobre Teerã e outros alvos estratégicos, o que era possível com seu alcance de altas altitudes e combinação bélica com mísseis Phoenix. A situação só foi equilibrada pelos iraquianos com a entrada em serviço dos modernos aviões franceses Dassault Mirage F1, que então abateram o primeiro F-14 iraniano. No total, o Iraque perdeu mais de 100 aviões no embate contra o Irã.


Um Tomcat do famoso esquadrão da U. S. Navy Jolly Rogers.


A Grumman fabricou 712 aeronaves F-14 Tomcat até 1991. As forças norte-americanas o retiraram de serviço em 2006. Já o Irã, opera um número não informado de aviões em sua força aérea. Com toda esta história, sem dúvida, o F-14 Tomcat é um belo avião que deixará saudades.

Aeronaves F-14 depositadas com outros modelos na base de Tucson, no Arizona, EUA.









quinta-feira, 25 de outubro de 2012



O guerreiro de metal do exército vermelho


Tanque de combate médio desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial pelos escritórios Karkhiv Morozov Design Bureau, o T-34 é tido por especialistas em veículos militares como o melhor blindado da época. Símbolo da virada soviética frente á Alemanha nazista, esse tanque contribuiu para as vitórias alcançadas no front onde atuou, especialmente na famosa Batalha de Kursk, a maior batalha direta entre tanques da história.


Dois T-34 em ação no front de Stalingrado em 1942.

A história deste valente carro de combate começou em 1939, quando a União Soviética percebeu que seus blindados estavam obsoletos e necessitava urgentemente de um novo modelo que impusesse força frente aos tanques inimigos. Em 1934, havia sido regulamentada uma norma pelo governo soviético com a finalidade de modernizar os carros de combate em serviço nas suas forças terrestres. Por causa desta data, o modelo leva em seu nome a designação T-34, referente ao ano do programa.


Comboio de tanques soviéticos T-34 atravessando uma floresta.

Versatilidade; soldados sendo transportados sob seu amplo exterior.


Tecnicamente, o T-34 introduziu muitas inovações em seu projeto e era superior aos seus equivalentes alemães. Por ser mais barato, possibilitou sua produção em altas quantidades, sendo além da qualidade, numericamente maior que os do inimigo. Esse quesito fazia diferença em muitas batalhas travadas no front. Os alemães praticamente só conseguiam tirar um T-34 de uma batalha com apoio aéreo e introdução de novas táticas de combate.
Podemos afirmar que esse carro foi um precursor dos MBT's (Main Battle Tank's) modernos,  pois tinha uma blindagem resistente e muitas vezes imune ás armas anti-tanque básicas. Carregava um forte armamento, possuía motorização robusta e suas lagartas foram desenhadas de modo a não atolar durante operações em lamaçais, comuns no terreno ártico soviético. Seu único grande defeito era o pouquíssimo espaço interno que causava desconforto aos ocupantes em longas viagens.


Um T-34 preservado em demonstração. Note a camuflagem para neve.


O T-34 destacou-se muito (além de Kursk) na Batalha de Stalingrado, considerada a mais decisiva em território soviético contra o invasor alemão. Naqueles dias, os tanques eram fabricados nas indústrias enviadas para o leste do país, para escapar á destruição inimiga. Blindados saiam de dia e á noite das linhas de produção, muitas vezes com acabamento inacabado e até sem pintura como forma de ir rapidamente ao campo de batalha, visto que Stalingrado estava quase caindo nas mãos das forças de Hitler.


Unidade em exibição no museu militar Berlim-Karlshorst.


Sinônimo de eficiência, este poderoso tanque chegou a ser plagiado pela indústria alemã, que projetou o modelo Phanter, na verdade, uma mera cópia de T-34 e seus mecanismos após relatórios de unidades alemãs, desesperadas no conflito em terras soviéticas devido á performance do T-34, que até então não possuía nenhum oponente á altura. Os grandes tanques alemães pecavam em um item importante; eram pesados e demasiadamente lentos comparados ao rústico modelo soviético.


Veículo presente numa parada militar na Praça Vermelha em 2011.


O T-34 foi empregado numa gama de versões que iam desde reconhecimento até engenharia. Podia chegar aos 60 Kmh em boas estradas e esteve em serviço na URSS (até a década de 70) e países do Pacto de Varsóvia por muitos anos. Cerca de 84.070 unidades deste excelente tanque foram produzidas. Curioso que, com tantos exemplares, alguns continuam perdidos mundo afora e outros foram localizados décadas após o final da Segunda Guerra Mundial.


Um T-34 encontrado e retirado de um lago na Estônia em 2000.

Acesse o youtube para visualizar o "resgate":











segunda-feira, 15 de outubro de 2012


SH-3 Sea King; o rei dos mares

O SH-3 Sea King é um helicóptero multiuso utilizado em diversas missões como transporte, salvamento, guerra anti-submarina e contra alvos na superfície. Foi desenvolvido no final dos anos 50 pela empresa norte-americana Sikorsky Corporation e entrou em serviço na U. S. Navy em 1961. A italiana Agusta também fabricou muitas unidades sob licença. No Vietnã, os USAF HH-53 foram amplamente utilizados por grupos CSAR (Busca e Resgate em Combate) durante a guerra que se iniciou em 1959 e terminou em 1975.

Um HH-53 visto por um artilheiro no Vietnã em 1972. Créditos; USAF.

É interessante destacar que algumas versões do Sea King possuem capacidades anfíbias, assim como alguns outros modelos de helicópteros militares. Essa capacidade dava mais segurança e eficiência ás operações de resgate por parte dos grupos de salvamento, sendo mais confiáveis do que os tradicionais cestos, ganchos e talhas. Um fator negativo que fez essa capacidade ser inutilizada recentemente é o alto custo de desenvolvimento de helicópteros considerados anfíbios. Outro item é de que o uso de navios de resgate próximos não torna obrigatória esta operação, tendo em vista que as águas devem estar "calmas" para a operação, caso contrário o helicóptero pode provocar um desastre. Ali fica o detalhe; a maior parte das missões de salvamento marítimas ocorrem em águas muito agitadas, tempestades, e outras condições climáticas precárias tornando a operação inviável. Essas máquinas são construídas com materiais que fazem a nave suportar o contato limitado com a superfície de água, fazendo uso de estabilizadores (mesmo assim a estabilidade é pobre), fitas vedadoras, bóias infláveis e materiais impermeáveis que tornam o casco á prova de água. O tempo que a aeronave pode permanecer na água varia com o modelo e não há muitas informações disponíveis pelos fabricantes. Teoricamente, é de uns poucos minutos.

Um SH-3 canadense demonstra suas capacidades "aquáticas". Créditos; Rogério Barbosa.

No Brasil, a Marinha do Brasil recebeu 16 unidades do tipo sendo distribuídos ao longo dos anos e aumentados por aquisições de SH-3 usados. Todas as aeronaves foram operadas pelo esquadrão SH-1 cuja base aeronaval situa-se em São Pedro da Aldeia-RJ. Eles também atuam no Nae São Paulo. Durante os mais de 40 anos que operou no país, este valente helicóptero demonstrou versatilidade e robustez, tendo sido responsável por dezenas de salvamentos realizados na costa brasileira. Outra boa capacidade do SH-3 é sua eficiência na caça á submarinos comprovada no bom desempenho em missões de treinamento.

Exercício de um SH-3 da Marinha do Brasil usando um sonar. Créditos; MB.

Dezenas de variantes foram produzidas á pedido do governo norte-americano, entre as principais podemos listar;
TH-53A - Versão de treinamento utilizado pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
HH-53B - CH-53A para a USAF, tipo de busca e salvamento (SAR), chamado “Super Jolly” por seus operadores.
CH-53C - Versão Heavy-Lift para a USAF, 22 aparelhos foram construídos.
HH-53C - "Super Gigante Verde", melhorou HH-53B para USAF
S-65C-2 (S-65 º) - Versão de exportação para a Áustria, depois para Israel.
S-65-C3 - Versão de exportação para Israel.
Yhh-53H - Protótipo de aeronave Pave Low I.
HH-53H - Pave Low infiltrado noite II.
MH-53H - Redesignado HH-53H.
MH-53J - "Pave Low III" operações especiais conversões de HH-53B, HH-53C, e HH-53H.
MH-53M - "Pave Low IV" atualizado MH-53Js.

Um SH-3 canadense resgatando astronautas da Apollo 10. Créditos; NASA.

Outras variantes especiais foram a CH-53 Sea Stallion e a CH-53E Super Stallion. Grande parte desses aparelhos do modelo SH-3 e derivados já foi retirada de serviço pelas forças americanas, sendo substituída pelos Sikorsky SH-60 Seahawk. A presidência dos Estados Unidos usa o VH-3D, conhecido como Marine One e pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais, os Marines da U. S. Navy.

O Marine One operando no pátio da Casa Branca. Créditos; U. S. Navy.

O SH-3 na televisão; os helicópteros Sea King foram agraciados com um seriado documentando seu trabalho na Marinha do Brasil. A série Brava gente, exibida pela TV Globo em 2002 mostrou o título "Entre o Céu e a Terra", uma espécie de curta-metragem que conta a história de um menino apaixonado pela aviação militar, em especial pelos SH-3 brasileiros. Sem dúvida, foi uma demonstração da importância do Esquadrão SH-1 para a soberania do país e motivo de orgulho á avião aeronaval. Quem assistiu não esquece!


Outro link sobre o Sea King; este vídeo demonstra a aterrissagem na água feita num lago do Canadá (talvez em Lake Shawnigan):

Este mostra um Agusta HH-3F manobrando na água no FANO Air Show:

sábado, 13 de outubro de 2012


M3 Stuart; o tanque que leva o nome de um general.

O M3 Stuart é um tanque leve de guerra. Bem conhecido no meio militar, onde operou durante a Segunda Guerra Mundial com as forças Aliadas contra o Eixo. Concebido para participar da guerra na Europa, sendo produzido entre 1941 e 1945, foi o primeiro blindado norte-americano da Segunda Guerra a enfrentar outros blindados em combate tanque versus tanque. Na verdade, o M3 foi um projeto atualizado do tanque de luz M2.  A produção ficou a cargo da ACF, American Car Foundry Company, que fabricou grande parte dos M3 produzidos, sendo que o número total de tanques produzidos chegou quase á 14 mil unidades.

Os primeiros usuários do M3 Stuart no teatro de guerra foram os britânicos, que o utilizaram na Campanha da África durante a Operação Crusader. Seus pontos fracos eram o alcance limitado, a fraca blindagem e o pouco armamento presente á bordo. Apesar disso, sua velocidade era alta e tinha boa confiabilidade mecânica, ideal para uso em um terreno como o africano. Uma observação; como ele foi projetado antes da guerra estourar, isso contribuiu para os muitos erros técnicos.

M3 Stuart do U. S. Army em Coutances, na França ocupada.

Muitos tanques foram retirados de serviço pelos britânicos e mais tarde, pelos americanos por causa de seus defeitos. Mesmo assim, seu número era considerado alto em termos de unidades produzidas. Com tantos problemas, o M3 passou por incrementos, tendo maior espaço interno e tanques extras de combustível. Esta versão melhorada foi denominada de M3A1. Os M3 Stuart foram substituídos gradualmente pelo M-24 Chafee no U. S. Army.

No Brasil estes blindados (versão M3A1) foram amplamente empregados pelo Exército Brasileiro, sendo que a força recebeu unidades do Estados Unidos e produziu dezenas delas em parceria com a empresa militar brasileira Bernardini, que seriam versões modificadas construídas no país, rebatizadas de X1A1, X1A2 e X1A3 (as últimas duas versões não tiveram muitas unidades fabricadas por seu projeto estar obsoleto). O número total de Stuart que operaram no Exército Brasileiro ultrapassou as 500 unidades.

Versão brasileira denominada M5 Stuart X1A2. Créditos; EB.

Países operadores durante e após a Segunda Guerra Mundial; Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Taiwan, Colômbia, El Salvador, França, Grécia, Haiti, Hungria, Índia, Indonésia, Itália, México, Holanda, Nova Zelândia, Nicarágua, Paraguai, Filipinas, Polônia, Portugal, Turquia, Grã-Bretanha, Uruguai, Estados Unidos, União Soviética, Venezuela, Iugoslávia e Tchecoslováquia.





A curiosa e triste história do cruzador Tamandaré...

Almirante Tamandaré é um nome marcante, de forte personalidade, que fez parte da nomenclatura de 3 navios de guerra da armada brasileira. E não foi por acaso, pois Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré, é patrono da Marinha do Brasil. Entre seus títulos honorários constam o de Barão, Visconde, Conde e Marquês, além de dezenas de condecorações por sua dedicação em serviço na armada. Almirante Tamandaré nasceu em São Pedro do Sul, na então província do Rio Grande do Sul, em 13/12/1807. Em 04/03/1824 alistou-se na Academia Imperial da Marinha, onde construiu uma sólida carreira militar. Faleceu em 20 de Março de 1897, no Rio de janeiro.

Joaquim Marques Lisboa; o Almirante Tamandaré.

O terceiro navio brasileiro que levava seu nome, o cruzador-ligeiro Tamandaré, foi construído no Estados Unidos da América em 1938 pelo estaleiro Newport Shipbuilding Co., localizado em Newport News, Virgínia. O nome original do navio era Saint Louis. O cruzador esteve atracado em Pearl Harbor, Havaí, durante o famoso ataque da Marinha Imperial Japonesa á Frota do Pacífico que estava ali estacionada em 1941, que culminou com a entrada do EUA na Segunda Guerra. O Tamandaré saiu ileso do ataque, necessitando poucos reparos e logo voltou á flutuar.

Transferido para a Frota do Atlântico após a entrada do EUA na Segunda Guerra Mundial, recebeu um total de 11 Estrelas de Combate durante o conflito. Após o cessar-fogo, foi repassado á armada brasileira em 1951 através da Lei de Assistência Mútua. Foi um dos mais poderosos navios que operaram na Marinha do Brasil.

No Brasil, foi protagonista do Movimento de 11 de Novembro, que teve como personagens Carlos Luz, Carlos Lacerda e o marechal Henrique Lott durante a era Jânio Quadros. Também foi destacado para o litoral nordestino durante a Guerra da Lagosta, escaramuça entre Brasil e França em 1963, mas não chegou ao seu destino por causa de uma pane no sistema de máquinas.

Cruzador-ligeiro Tamandaré. Créditos; Marinha do Brasil.

Depois de 24 anos de serviço ativo, o Tamandaré foi desativado em 1976 e seu casco vendido á uma empresa particular do Panamá, sendo rebocado até Hong Kong para desmantelamento. Foi contratado um rebocador para a missão, o Royal. Durante a viagem, o navio encontrou péssimo tempo próximo ao litoral sul-africano e, apesar de receber reparos de técnicos á bordo após a tempestade, afundou em Capetown, África do Sul, repousando para sempre no fundo do Atlântico.

Este navio deveria ter sido transformado em um navio-museu, visto sua extraordinária história tanto no Brasil como no Estados Unidos. Era uma relíquia da Segunda Guerra Mundial. Agora, só resta apreciar sua história escrita e falada que ainda será contada por muitos anos pelos amantes do mar.




Primeiro post... (especial Mirage's III BR)

 São 7 anos sem o Mirage III na FAB!

Em 2012 serão sete anos que o nosso aguerrido e bravo Mirage III deixou de estar operacional na maior força aérea da América do Sul, a FAB. Para relembrar deste importante e belo caça que embelezou os céus do Brasil por décadas, resolvi fazer este post. A história destes aviões em solo brasileiro muitos já conhecem, outros não lembram ou nunca ouviram falar do modelo, passando despercebido. 


Dois Mirage III BR no seu último vôo sobre Goiás. Créditos; FAB.

Para os leigos, era mais um avião que dava prejuízos ao governo. Para os amantes da aviação (seja ela militar ou comercial) que o admiram, foi um guerreiro valente que protegeu nosso espaço aéreo e nos deu aval para termos nossa soberania respeitada durante estes anos todos em que ele esteve em operação.

O nascimento da família Mirage:


O projeto Mirage foi criado em 1953 através de um pedido da Força Aérea Francesa (Armée De L'Air) á empresa Dassault Aviation, também francesa. A força buscava um avião "caça interceptador" leve com boas capacidades e alta razão de subida. A Dassault apresentou então um projeto denominado MD 550 Mystére Delta.

Tempos depois, um segundo protótipo modificado foi apresentado com alterações. Esses dois protótipos são anteriores ao Mirage III e receberam os nomes de MD 550-01 e MD 550-02 (seriam o Mirage I e Mirage II), enquanto que o terceiro protótipo, que atendeu as exigências da Armée De L'Air é o Mirage III, 30% mais pesado que os seus antecessores e dotado uma turbina Snecma Atar 101G1.

O primeiro protótipo do Mirage III voou em 17 de Novembro de 1956. Esses aviões substituíram durante os anos seguintes todos os aparelhos Dassault Mystére, fabricados nos anos 50 e que até então estavam em serviço na Força Aérea Francesa. Estima-se que os franceses tenham adquirido em torno de 130 aeronaves Mirage III de diversas versões.

Dassault Mystére; o antecessor do Mirage III na Armée De L'Air.

O Mirage possui uma grande variedade de versões que vão desde modelos navais até  ataque nuclear. Abaixo veja as principais versões deste versátil avião:

Variantes do Mirage III;

III B - Versão de treinamento (2 lugares, na FAB era III D BR).
III C - Versão de interceptação.
III E - Versão de ataque ao solo.
III R - Versão de reconhecimento.

    Mirage III da Armée De L'Air. Créditos; Herve Beaumont.


Operadores do Mirage III; Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Chile, Colômbia, Egito, Emirados Árabes Unidos, França, Gabão, Israel, Líbano, Líbia, Paquistão, Peru, África do Sul, Espanha, Suíça, Venezuela e Zaire.

O guerreiro em combate mundo afora:

Aeronaves Mirage III estiveram em ação em muitos conflitos. A maioria dos embates aéreos ocorreram no Oriente Médio á serviço de Israel;

- Guerra dos Seis Dias.
- Guerra Indo-Paquistanesa.
- Guerra do Yom Kipur.
- Guerra das Fronteiras.
- Guerra das Falkland/Malvinas.

  Mirage III israelense preservado em um museu aeronáutico local.

Derivados do Mirage:

Protótipos;

Mirage IIIV / Balzac - Modelo de teste para decolagens e aterrissagens do tipo VSTOL.

Milan - Modelo projetado em cooperação com a indústria aeronáutica Swiss. Houve nele introdução de canards. O projeto foi abandonado em 1972.

Mirage III NG - Outro modelo experimental com novas asas em delta e também dotado de canards fixos. Suas tecnologias foram usadas na modernização dos Mirage existentes. 

Um Mirage III S suíço. Créditos; Germano Caldeira / site Petroead.


Outras versões do Mirage;

O Mirage deu origem aos projetos dos aviões israelenses IAI Kfir e IAI Nesher, e ao Atlas Cheetah sul-africano (ambos plagiados e modificados após o embargo francês aos dois países, embora o Cheetah tenha sido construído sob licença).

 Dois IAI Kfir com camuflagem de deserto voam juntos. Créditos; IAF.


O Nesher (cópia de Mirage 5 com alguns aviônicos israelenses) foi exportado á Argentina com o nome de Dagger e atuou bravamente nas Malvinas.

 Esquema de um M-5 IAI Dagger usado nas Malvinas. Créditos; FAA.

Mirage 5 - Versão menos avançada de ataque ao solo proposto por Israel á Dassault Aviation. Após o embargo francês aos israelenses durante os conflitos da Guerra dos Seis Dias, estas aeronaves foram repassadas á Armée De L'Air. A versão 5 do Mirage deu origem á dezenas de variantes cujas especificações não caberiam aqui. 

Mirage 50 - Versão avançada do Mirage 5. Foi comprada por poucas forças aéreas devido á idade avançada do projeto.

Mirage F1 - Versão multifunção com asas em seta ao invés da famosa asa em delta. Foi  construído como sucessor do Mirage III.

Mirage G - Versão do caça com asas de geometria variável. Foi cancelado em 1970 devido ao seu alto custo.

Mirage IV - Versão de ataque nuclear e reconhecimento, ambas aeronaves já foram aposentadas na Força Aérea Francesa.


Dois Mirage F1 CZ da África do Sul. Créditos; Knott Collection

Mirage 2000 - A última versão da família Mirage, que também rendeu um bom número de variantes;


2000 C - Variante de interceptação. Estes foram os primeiros Mirage 2000 á entrarem em serviço.

2000 B - Variante de treinamento com 2 assentos.

2000 N e 2000 D - Estas duas variantes são para ataque, cumprindo o papel que antes cabia ao Mirage IV. A versão "N" é para ataque nuclear e a versão "D" é para ataque convencional.

2000-5 e 2000 F - Estas duas variantes se valeram da tecnologia do Rafale, já que a Dassault queria aproveitar seu projeto para desenvolver um Mirage 2000 multifuncional para duelar com os aviões mais modernos.

Versões de exportação;

A Dassault criou nomenclaturas para os Mirage exportados, sendo que o Mirage de exportação 2000 E seria o 2000 C (o primeiro a entrar em serviço). Veja a nomenclatura por países:
Mirage 2000M (Egito), Mirage 2000H (Índia), Mirage 2000P (Peru), Mirage 2000EI (Taiwan), Mirage 2000EDA (Qatar), Mirage 2000EAD (Emirados Árabes Unidos) e Mirage 2000EG (Grécia).
O Mirage 2000-9 é a versão de exportação do Mirage 2000-5 mark 2 e foi vendida para os Emirados Árabes Unidos, que também contratou a atualização dos aviões antigos para o mesmo padrão. É a mais avançada variante do Mirage 2000 construída até hoje.

 Mirage 2000-9 dos Emirados Árabes Unidos. Crédito; Dassault.


No Brasil, os 10 Mirage 2000 C (monoposto) e os 2 Mirage 2000 D (biposto) estão em serviço desde  2006 na BAAN, em Goiás, atuando no 1° GDA. Estes aviões são ex-Armée De L'Air e substituíram temporariamente os antigos Mirage III BR desativados.

 Mirage 2000 C do 1º GDA da Força Aérea Brasileira. Créditos; FAB.


Os eternos Mirage III na Força Aérea Brasileira (FAB):

Voltando ao assunto principal desta matéria; os Mirage III da FAB. No Brasil, as versões operadas deste excelente caça foram a III E BR e III D BR (chamados F-103 na FAB), eram interceptadores monopostos e bipostos com capacidade de ataque ao solo, sendo que  ambas versões ficaram sediadas na Base Aérea de Anápolis-GO (BAAN), construída para essa finalidade.


Vista parcial da BAAN no início dos anos 80. Créditos; FAB.

A compra dos vetores originou-se de uma proposta do governo á Dassault em 1970, após plano do Ministério da Aeronáutica da época de ampliar o controle do espaço aéreo brasileiro. Nestes anos, a FAB ainda dependia dos obsoletos aviões Gloster Meteor e F-80 Shooting Star na primeira linha. Entre seus concorrentes estavam o norte-americano F-4 Phantom (venda vetada pelo Congresso do EUA), o inglês English Lightning e o soviético MIG-21 (descartado visto as hostilidades da Guerra Fria).

A Aeronaútica optou pelo francês  Mirage III, visto seu sucesso nas batalhas em que esteve presente no Oriente Médio, onde os israelenses abateram 58 aviões árabes durante a Guerra dos Seis Dias, sendo que 48 deles foram retirados de ação por seus Mirage. No total, o Brasil adquiriu 32 aviões, porém,  muitos leigos e veículos de comunicação se enganam, afirmando erroneamente que "o governo comprou 30 aviões da França em 1970...".


Mirage III E BR com pintura metálica padrão nos anos 70. Créditos; FAB.

Em 12 de Maio de 1970, o contrato inicial assinado pelo governo brasileiro firmava a aquisição de 16 unidades do Mirage III e opção para compra de mais 36 aeronaves (nunca completada). O novo grupo de defesa entrou em operação em 23 de Outubro de 1972 e denominou-se 1º ALADA (Ala de Defesa Aérea), mais tarde sendo modificado para 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea).


Wallpaper da FAB com o último esquema de pintura "azulado". Créditos; FAB.

Os primeiros 16 Mirage brasileiros (alguns afirmam terem sido 17) foram recebidos entre 1972 e 1973, quando ocorreu o primeiro vôo pela FAB. Os demais lotes vieram entre 1973 e 1997 (quando foi entregue a última unidade). Esses lotes compreenderam aeronaves novas e usadas, sendo que serviram de reposição de perdas e aumento da frota. A FAB perdeu 14 aviões em acidentes diversos até a desativação do modelo, ocorrida em 2005.  


Esquemas de pintura dos Mirage III da FAB. Créditos; Marcelo Ribeiro.

Os Mirages III BR podem estar sucateados e não valerem quase nada atualmente, mas, sem dúvida, quem presenciou a chegada e posterior entrada em serviço destes aviões jamais esquecerá o orgulho de vê-los cruzando os céus brasileiros com as cores verde e amarela. Esses caças foram muito solicitados para interceptação e reconhecimento de OVNIS nas décadas de 70 e 80 (há muita controvérsia neste assunto). Também foi em um desses caças que nosso ídolo Ayrton Senna atingiu a velocidade do som no ano de 1989. Em 2002, completaram 30 anos protegendo nossa pátria e um deles recebeu a famosa pintura dos 30 anos com as cores do Brasil, criada pelo designer Reinor Fernandes. 
Em 2010, escoltaram a entrada em nosso espaço aéreo do avião da Seleção pentacampeã mundial de futebol.

Saudades! Para sempre Mirage...


Wallpaper da FAB com o Mirage especial dos 30 anos. Créditos; FAB.

Fica ali a minha homenagem á este valente e legítimo "cavalo de batalha".