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terça-feira, 11 de junho de 2013


Quando um meteoro chegou ao Brasil...

Sem dúvida alguma, esse foi um dos mais importantes modelos de aviões já construídos. Não por ser britânico nem ocidental, mas sim por ter sido o primeiro jato a operar na Força Aérea Brasileira. Portanto, você já deve ter visto unidades do esquisito e imponente Gloster Meteor em alguma praça pública tupiniquim repousando sob um pedestal. Antes de ir diretamente para sua história no Brasil, vou descrever um pouco do surgimento deste avião especial:

Bela formação de meteoros da Royal Air Force. Créditos; Wiki-Commons.

Um jato “urgente” para a RAF:

Sabemos que durante o final da Segunda Guerra Mundial, todos os principais países envolvidos no conflito pesquisavam e estavam perto de dominar a tecnologia de construção de aviões á jato. Os alemães tiveram grande impulso devido ao uso de foguetes á jato como as bombas voadoras V1 e V2. Os britânicos estavam perto do sucesso (patentearam um projeto para o motor á jato em 1930). Muitos dizem que com o fim da guerra esse sucesso foi alcançado rapidamente através do auxílio de cientistas alemães levados para trabalhar nos centros de pesquisa da terra de James Bond. Do mesmo modo se valeram os norte-americanos e soviéticos para desenvolverem os seus aviões á reação (jato). A grande nação aliada, o Estados Unidos, estava bem atrasada nas pesquisas rumo ao desenvolvimento de aviões á jato. Os britânicos testaram um protótipo do “meteoro” batizado de Gloster E28/39 em 15 de Maio de 1941 na cidade de Farnborough, usando um motor de propulsão á jato Whittle WI.


Um solitário Gloster Meteor MK III da arma aérea britânica. Créditos; RAF.

O Gloster Meteor voou pela primeira vez em Julho de 1943 e entrou em serviço em 27 de Julho de 1944. Foi o primeiro avião britânico equipado com assento ejetável. Em 16 de Abril de 1945, poderia ter ocorrido o primeiro combate entre o jato de sua majestade e o seu equivalente alemão  Messerschmitt  Me 262, mas a paz deteve a luta entre os dois modelos. Após a guerra, o Gloster Meteor foi fornecido ás nações amigas de Londres, sendo que os primeiro países estrangeiros que o operaram foram Austrália, Bélgica e Israel. Os australianos empregaram dezenas de seus Gloster Meteor na Guerra da Coréia (1950-1953), principalmente para ataque ao solo, agindo com supervisão dos britânicos. Como o Meteor foi projetado para interceptação, ele não se mostrou muito eficiente nesta função. Em combate direto com os Mikoyan-Gurevich MIG-15 soviéticos, o avião britânico levou a pior; dos 93 aviões entregues ao grupo no front coreano, 32 Gloster (australianos do 77° Esquadrão) foram perdidos contra um total de apenas 03 MIG-15 abatidos. Esse resultado demonstrava claramente que o Gloster Meteor havia se tornado obsoleto frente aos novos aviões á jato dos concorrentes, embora não se pudesse descartar a possível inferioridade numérica nos combates aéreos, devido em parte ás poucas informações precisas sobre o conflito coreano.


Bizarro Meteor experimental que a não chegou ser produzido. Créditos; Wiki-Commons.


Aqui na parte de baixo da América, os Gloster voaram primeiramente com as cores azul e branco da Fuerza Aérea Argentina, que encomendou cerca de 100 unidades da aeronave Gloster Mk.4s F em maio de 1947, tendo recebido 102, sendo que os 50 primeiros eram ex-RAF e os demais aviões novos. Curioso saber que os Gloster argentinos se enfrentaram durante o golpe que derrubou Juán Perón do poder em 16 de setembro de 1955, pois alguns estavam nas mãos dos revoltosos e os demais com o governo. Os “meteoros” argentinos foram aposentados em 1970.


Gloster Meteor da Fuerza Aérea Argentina. Créditos; Aeroclub Baradero.


Meteoros no Brasil:

Com as cores verde e amarela, os Gloster Meteor fizeram história como os primeiros aviões á jato da Força Aérea Brasileira, substituindo os Republic P-47 Tunderbolt (preferidos da FAB, os North American F-86 Sabre teriam sido negados pelo Estados Unidos – que novidade, isso provém daquela época...). Pode parecer estranho, mas os aviões foram trocados com os britânicos por carregamentos de algodão (cerca de 15 mil toneladas). Eu arriscaria dizer que isso ocorreu porque o Brasil era uma economia ainda quase que totalmente agrária e sem recursos financeiros para bancar a empreitada (como sempre), ou o contrário; os britânicos estavam desesperados com os prejuízos da guerra que aceitavam ”qualquer coisa”. O mais correto, portanto, é que foi a falta no Brasil de moeda convertível que obrigou a esta transação, segundo uma confiável fonte britânica. A FAB teria adquirido 62 unidades (alguns afirmam terem sido 60 e outros 70) do modelo em 1953, que seriam o Gloster Meteor Mk7 (F-7) e o Gloster Meteor Mk8 (F-8), monopostos e bipostos.


Exemplar de um Gloster Meteor da Força Aérea Brasileira. Créditos; FAB.


Como o país não tinha um sistema de defesa que possibilitasse operar os Meteor como interceptadores, eles ficaram relegados á missões de ataque ao solo, acelerando o desgaste de células das aeronaves. Rachaduras encontradas nos aparelhos em 1964 influenciaram na sua rápida desativação.



Popular pintura das muitas que o modelo ostentou. Esta era do 1° Grupo de Caça. Créditos; Rudnei Cunha.


Começaram a serem substituídos pelos Lockheed AT-33 entre 1966 e o início da década de 70, no que alguns entusiastas classificam como “aposentadoria prematura”. Não concordo com esta afirmação, pois o Gloster Meteor já havia se mostrado ultrapassado por jatos como MIG-15, F-80 Star e F-86 Sabre durante os combates na Guerra da Coréia. Não é á toa que em 1970 ele não deveria mais operar, inclusive países latino-americanos já haviam recebido aviões considerados superiores como o Perú (britânicos Canberra e Hawker Hunter, norte-americanos  Lockheed F-80 Shooting Star e F-86 Sabre), Argentina (F-86 Sabre) e Uruguai (Lockheed T-33 S e F-80 Star). A “mãe” da cria, a Grã-Bretanha, começou a sua substituição ainda em 1955 pelo também britânico Hawker Hunter.


Aeronave em pedestal na Praça do Avião em Canoas-RS. Créditos; Prefeitura.


Ao todo, foram construídas quase 4.000 aeronaves e muitas serviram em seus países até a década de 70. Este modelo foi um grande passo á frente para o desenvolvimento e a consolidação da indústria aeroespacial britânica durante o pós-guerra.



















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