Quando um meteoro chegou ao Brasil...
Sem
dúvida alguma, esse foi um dos mais importantes modelos de aviões já
construídos. Não por ser britânico nem ocidental, mas sim por ter sido o
primeiro jato a operar na Força Aérea Brasileira. Portanto, você já deve ter
visto unidades do esquisito e imponente Gloster
Meteor em alguma praça pública tupiniquim
repousando sob um pedestal. Antes de ir diretamente para sua história no
Brasil, vou descrever um pouco do surgimento deste avião especial:
Bela formação de meteoros da Royal Air Force. Créditos; Wiki-Commons.
Um jato “urgente” para a
RAF:
Sabemos
que durante o final da Segunda Guerra Mundial, todos os principais países
envolvidos no conflito pesquisavam e estavam perto de dominar a tecnologia de
construção de aviões á jato. Os alemães tiveram grande impulso devido ao uso de
foguetes á jato como as bombas voadoras V1 e V2. Os britânicos estavam perto do
sucesso (patentearam um projeto para o motor á jato em 1930). Muitos dizem que com o fim da guerra esse sucesso foi alcançado rapidamente
através do auxílio de cientistas alemães levados para trabalhar nos centros de
pesquisa da terra de James Bond. Do
mesmo modo se valeram os norte-americanos e soviéticos para desenvolverem os
seus aviões á reação (jato). A grande nação aliada, o Estados Unidos, estava bem
atrasada nas pesquisas rumo ao desenvolvimento de aviões á jato. Os britânicos
testaram um protótipo do “meteoro” batizado
de Gloster
E28/39 em 15 de Maio de 1941 na cidade
de Farnborough, usando um motor de
propulsão á jato Whittle WI.
Um solitário Gloster Meteor MK III da arma aérea britânica. Créditos; RAF.
O Gloster Meteor voou pela primeira vez em Julho de 1943 e entrou em serviço em 27 de Julho de
1944. Foi o primeiro avião britânico equipado com assento ejetável. Em 16 de Abril de 1945, poderia ter ocorrido o primeiro
combate entre o jato de sua majestade e o seu equivalente alemão Messerschmitt Me 262, mas a paz deteve a luta entre os
dois modelos. Após a guerra, o Gloster Meteor foi fornecido ás nações amigas de Londres, sendo que os
primeiro países estrangeiros que o operaram foram Austrália, Bélgica e
Israel. Os australianos empregaram dezenas de seus Gloster Meteor na Guerra da Coréia (1950-1953), principalmente para
ataque ao solo, agindo com supervisão dos britânicos. Como o Meteor foi projetado para interceptação, ele não se mostrou muito
eficiente nesta função. Em combate direto com os Mikoyan-Gurevich MIG-15 soviéticos, o
avião britânico levou a pior; dos 93 aviões entregues ao grupo no front coreano, 32 Gloster (australianos do 77° Esquadrão) foram perdidos
contra um total de apenas 03 MIG-15 abatidos. Esse resultado
demonstrava claramente que o Gloster
Meteor havia se tornado obsoleto frente aos novos aviões á jato dos
concorrentes, embora não se pudesse descartar a possível inferioridade numérica
nos combates aéreos, devido em parte ás poucas informações precisas sobre o conflito
coreano.
Bizarro Meteor experimental que a não chegou ser produzido. Créditos; Wiki-Commons.
Aqui na parte de baixo da América, os Gloster voaram primeiramente com as cores azul e branco da Fuerza Aérea Argentina, que encomendou
cerca de 100 unidades da aeronave Gloster
Mk.4s F em maio de 1947,
tendo recebido 102, sendo que os 50 primeiros eram ex-RAF e os demais aviões novos.
Curioso saber que os Gloster argentinos
se enfrentaram durante o golpe que derrubou Juán
Perón do poder em 16 de setembro de 1955, pois alguns estavam nas
mãos dos revoltosos e os demais com o governo. Os “meteoros” argentinos foram
aposentados em 1970.
Gloster Meteor da Fuerza Aérea Argentina. Créditos; Aeroclub Baradero.
Meteoros no Brasil:
Com
as cores verde e amarela, os Gloster
Meteor fizeram história como os primeiros aviões á jato da Força Aérea Brasileira,
substituindo os Republic P-47 Tunderbolt
(preferidos da FAB, os North American F-86
Sabre teriam sido negados pelo Estados Unidos – que novidade, isso provém
daquela época...). Pode parecer estranho, mas os aviões foram trocados com os
britânicos por carregamentos de algodão (cerca de 15
mil toneladas). Eu arriscaria dizer que isso ocorreu porque o Brasil era
uma economia ainda quase que totalmente agrária e sem recursos financeiros para
bancar a empreitada (como sempre), ou o contrário; os britânicos estavam
desesperados com os prejuízos da guerra que aceitavam ”qualquer coisa”. O mais correto, portanto, é que foi a falta no Brasil de moeda convertível que obrigou a esta transação, segundo uma confiável fonte britânica. A FAB
teria adquirido 62 unidades (alguns afirmam terem sido 60 e outros 70) do
modelo em 1953, que seriam o Gloster
Meteor Mk7 (F-7) e o Gloster Meteor
Mk8 (F-8), monopostos e bipostos.
Exemplar de um Gloster Meteor da Força Aérea Brasileira. Créditos; FAB.
Como o país não tinha um sistema de
defesa que possibilitasse operar os Meteor
como interceptadores, eles ficaram relegados á missões de ataque ao solo,
acelerando o desgaste de células das aeronaves. Rachaduras encontradas nos aparelhos em
1964 influenciaram na sua rápida desativação.
Popular pintura das muitas que o modelo ostentou. Esta era do 1° Grupo de Caça. Créditos; Rudnei Cunha.
Começaram a serem substituídos pelos Lockheed AT-33 entre 1966 e o início da década de
70, no que alguns entusiastas classificam como “aposentadoria prematura”. Não
concordo com esta afirmação, pois o Gloster
Meteor já havia se mostrado ultrapassado por jatos como MIG-15, F-80 Star e F-86 Sabre durante
os combates na Guerra da Coréia. Não é á toa que em 1970 ele não deveria mais
operar, inclusive países latino-americanos já haviam recebido aviões considerados
superiores como o Perú (britânicos Canberra e Hawker Hunter, norte-americanos Lockheed F-80 Shooting Star e F-86 Sabre), Argentina (F-86 Sabre) e Uruguai (Lockheed T-33 S e F-80 Star). A “mãe” da cria, a Grã-Bretanha,
começou a sua substituição ainda em 1955 pelo também britânico Hawker Hunter.
Aeronave em pedestal na Praça do Avião em Canoas-RS. Créditos; Prefeitura.
Ao todo, foram construídas quase 4.000 aeronaves e muitas serviram em seus países até a década de 70. Este modelo foi um grande passo á frente para o desenvolvimento e a consolidação da indústria aeroespacial britânica durante o pós-guerra.
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